



Tinha o hábito de ligar o Sharp (ainda vindo de Moçambique), que ficava em cima do estirador do meu pai no corredor (que era onde ficava, por sua vez, o "atelier" dele). Como a casa era uma casquinha de noz amorosa, o som chegava a todo o lado e lembrava a minha mãe, através do que ia dizendo o locutor, que horas eram.
E esta canção devia passar na altura. Fiquei sempre com ela lá no fundo da memória, até um dia descobrir, numa outra sessão de rádio, essa muito tardia, com o sol quase a nascer, numa directa para as avaliações da faculdade, que esta era a música que trouxe mais fama a uma banda chamada Joy Division (nome que eu havia visto escrito nos casacos de cabedal dos "vanguardistas", uma espécie de punks lá da escola secundária, que andavam no 12º quando eu entrava para o 7º e que me metiam medo só por andarem todos vestidos de preto - mesmo nunca ter visto nenhum ser mau para niguém).
Durante muito tempo julguei a música alegre e esperançosa. Até perceber as letras.
Agora como vai sair o filme sobre a vida de Ian Curtis, lembrei-me outra vez.