O meu pai faz hoje 60 anos, apesar de ter nascido aos 3 em Moçambique.
É a pessoa mais humilde que conheço, ainda que tenha vários talentos invulgares: uma mão precisa e preciosa, uma sensibilidade para a utilização das cores, uma paciência infinita e um espírito de sacrifício que não poderemos, nós - as suas filhas e mulher -, alguma vez igualar, agradecer e muito menos retribuir.
Espero não ter herdado só a cara e o feitio dos dedos: também espero que tenha passado algum do sentido de humor e o bom gosto para a música. Já não falamos da literatura, porque ele não gosta do Saramago como eu.
O que veêm neste blog não poderia existir se eu não tivesse prestado tanta atenção ao que o meu pai sempre fez: trabalhar. Ensinou-me a desenhar, ensinou-me que não se deve deixar os acabamentos para a última da hora e que o material tem sempre razão. Mesmo não acreditando muito nos meus botões, no início, sei que agora tem muito orgulho no meu sucesso e que compreende que este é o meu caminho - um designer é designer, mesmo debaixo de água.
Calar em vez de protestar foi dos conselhos mais importantes que me transmitiu para se viver neste mundo da treta.
Repetir 60 anos já deve ser pouco provável e por isso, agradeço-lhe todos os momentos de sabedoria que ainda me vai proporcionar.
Este é o retrato que nos fez. Estamos todos representados - o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e irmão e até os nossos bichos. O meu pai não se esquece de ninguém: estão só os que interessam.
Um beijo da Tua Filha Xana*